Fotografia inspirada na pintura "Isabella e o pote de manjericão". A obra cuja personagem cultiva a cabeça do amado assassinado em um vaso de manjericão e que é violentamente separada do que restou de seu romance tem muito a nos dizer. Acredito que temos vivido um pouco como Isabella nesses tempos de isolamento. Estamos há pouco mais de 13 meses agarrados a fotos, memórias, costumes e desejos de um mundo que não existe mais, enquanto repetimos para nós mesmos "quando tudo isso passar", sem sabermos "o quê" exatamente vai passar e quando vai passar. Assim como Isabella, reafirmamos constantemente nosso passado recente numa medida paliativa de sobrevivência em meio ao caos. No entanto, a qualquer momento, seremos confrontados com a dura realidade de que não haverá volta da normalidade e nem para onde voltar. O que está morto permanecerá irremediavelmente morto e nossos passos seguintes serão forjados a partir da elaboração do luto, que é coletivo e vai para além das milhares de vidas perdidas.
"Da espera"
Autorretratos realizados durante o curso "Narrativas Fotográficas" ministrado pela professora Monique Burigo, em dezembro/2020.